sexta-feira, agosto 28, 2015

Click

Um click e tudo retorna ao eixo,
Ao perfeito alinhamento dos planetas.
Um piscar de olhos entre o que eu vejo e o que tu vês
E a substância precipita.
Passa, passou
Era apenas o tempo da dor.
Reencontrei-me, muito prazer e boa sorte.

quinta-feira, agosto 27, 2015

Deus o conhece



Deus o conhece.
Sim, começo com a afirmação da promessa. Você, humano, pecador, filho de Adão ou filha de Eva, produto de uma humanidade caída em busca da redenção.
Quem somos nós? Contamos a nossa história desde o nascimento, da nossa biologia modificada pela convivência em sociedade. Falamos sobre os nossos afetos e desafetos, alegrias e tristezas, lembranças e sonhos. Lutamos por nossos ideais, e ainda que pensemos em desistir tantas vezes, somos sustentados para não cairmos em nossa tendência natural ao abismo de nossas mentes.
A morte já existia, mas os nossos corpos, já tão cansados dos alimentos venenosos que os damos, falham cada vez mais cedo. Os olhos não possuem mais a acuidade adequada, nossas peles já não são mais admiradas por sua beleza natural, nossas veias são obstruídas pelo conteúdo que depositamos nelas esperando conter a sensação de vazio. O corpo, aquele templo do seu espírito, é hoje uma parede pichada, uma construção mal acabada. Isso está no exterior, aquilo que mais nos esforçamos para embelezar e exibir ao outro. E o interior? Como estará? O peso que você vem carregando sobre os ombros já danificou a sua estrutura?
Fomos comprados por um valor tão alto que a dívida nunca poderá ser paga por nós mesmos. O sangue de Cristo nos salvou. Salvou a você, que hoje é capaz de rejeitar o maior amor de todos por sua natureza corrupta, que se preocupa com fatos do mundo, incapazes de completar a sua falta inerente.
Andamos ansiosos, preocupamo-nos não com o necessário, mas com o útil para um futuro que não conhecemos. Saímos para estudar e trabalhar diariamente, muitas vezes, sem falarmos com nossos companheiros e familiares, sem alimentarmos nossos corpos e espíritos. Não temos tempo, dizemos, e usamos todo o tempo para aquilo que não é verdadeiramente essencial. Quando a finitude chega, quase todos estamos preocupados com o que não fizemos, com o que não vivemos, com o que não podemos mais mudar. Caminhamos em direção à morte sem fé, sem esperança, não como resultado de um destino imutável, mas de uma escolha errada feita todos os dias de nossas vidas. Somos homens e mulheres de pouca fé.
A questão é que Deus nos conhece, e mesmo nos conhecendo tão bem, nos salvou. Deus sabia de todos os erros que você cometeria, de todas as suas fraquezas. Ele sabia exatamente o dia e a forma em que iria tocá-lo com o Espírito Santo, e sabia o quanto você iria sofrer por não compreender os Seus desígnios. Deus o conhece, e o ama mesmo assim. Não por causa seus pecados irremediáveis, mas porque por meio da Sua graça, sabia que o seu coração iria produzir arrependimento se salvo. Ele não nos ama independentemente do que façamos, mas sabe que por termos a Sua graça, não teremos prazer no pecado.
Quando oramos a Deus e confiamos em Sua providência não precisamos mais carregar o nosso próprio peso. Ao sofrermos injustiças e o julgamento do mundo, e não nos iramos ou nos desesperamos, estamos apostando na justiça de Deus, na infalível e incorruptível balança. Ele esquadrinha nossas mentes e corações, conhece as nossas palavras antes que estas tenham chegado à boca, por que você se preocupa, então? Não há um justo sequer, mas se você busca andar em caminhos retos e tem passado por dificuldades, entregue ao Senhor os teus problemas em oração. Os homens, muitas vezes, caem no legalismo e ficam cegos pela visão do poder, julgando não conforme a vontade de Deus, mas conforme a vontade dos próprios corações. Deus, porém, é capaz de transformar trevas em luz, conduzindo-nos com sua destra para a convivência saudável com os nossos irmãos verdadeiros. As trevas não podem conter a luz, assim como a mentira não dura muito tempo.
Que a certeza de que Deus o conhece seja um alívio ao seu espírito. Que você consiga esperar para ver o que os homens não enxergam e, ainda assim, julgam com o seu legalismo. Tenha fé, esperança e, acima de tudo, amor. Pois o amor nos faz ver mais longe, o amor nos edifica por dentro e por fora.
Deixem que o mal lide com o seu próprio mal. Deus sabe de tudo. "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos." (Filipenses 4.4)

quinta-feira, agosto 20, 2015

The passenger


O que é o vazio? É aquilo que você desejou e nunca teve, o que já teve e perdeu ou o que nunca existiu?
É possível sentir falta do que nunca se teve? Há o silêncio da noite, e o vazio da cama. Há o retrato mais puro da solidão e o barulho do vento enquanto se reflete olhando para as estrelas. Depois daquele breve momento em que você se questiona: quantas pessoas no mundo fazem o mesmo nesse exato segundo? Onde estão todos eles? E por breves segundos de esperança o ar é mais puro, até a primeira chamada da sanidade. Sanidade que talvez seja a loucura camuflada pelas regras da sociedade.
Todos estão presentes, mas ninguém escuta, não há mais uma alma que pare para ouvir a outra, são só palavras não interiorizadas. A intensidade daquilo que se espera é proporcional ao seu tempo de paralisia, cada vez maior na posição fetal do chão do seu quarto. Não, ninguém escuta, ninguém para na estrada para oferecer ajuda.
Há gritos, e dor, e silêncio, há lágrimas que, de tão freqüentes já formaram rios. Não importa, deve-se ser muito sensível, deve-se ter o problema do “o seu tempo não é o tempo de ninguém”. Pare o tempo, que seja, pare que eu preciso descer.
O vale é escuro, o frio é cortante, as palavras que você não disse e os toques que não deu. O lençol que não sujou, o calor que me negou. O banco dessa estrada vazio, escrever e apagar, cansar de tentar, ninguém escuta. Às vezes vem uma visita e senta, lê um jornal, toma um café. Você nem vem, nem vai, nem prende, nem solta.
É ser pássaro sem lugar para pousar; não ter casa que não seja gaiola; não ter amor que não seja esmola. Uma cadeira escura onde balanço todos os dias as horas que passaram sem a tua decisão. O livro vazio, de capa dura, aquele que você deixou na cabeceira antes de partir.
A tua ausência está aqui, a me fazer companhia, mas a casa é pequena para algo tão grande. Quem nela quiser morar há de concordar: o tempo é ouro que não se pode resgatar.
Volto pro silencio, cadeira vazia, não sinto teu cheiro, noite tão fria. O tempo passou, o ano virou, a felicidade ficou na memória. Ainda há chão duro, as lágrimas geladas, a capacidade do corpo de dobrar-se em si mesmo, quase que querendo retornar às condições fetais. As incertezas me cobrem em manto de pranto, mas ninguém escuta, que não desejo a ninguém essa morte, que não desejo a ninguém o vazio que, agora, me faz desaparecer.
A você que não incomodo mais com a minha solidão, e com o meu amor, e com o meu tempo acelerado, encontrou a felicidade que buscava? Como é adormecer sem um abraço, e acordar sem um olhar? E quando quiser segurar minha mão, precisar de atenção? E se essa foi a sua chance de nunca mais ser sozinho? E quando você perceber que a deixou ir?

quarta-feira, julho 01, 2015

Sobre a maldade humana e casas alicerçadas: uma reflexão de Lucas VI


O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.
Lucas 6:45

Dentre as soluções de defesa diante da angústia da castração, nenhuma é fácil, em todas há dor: "a bolsa ou a vida?!" Não há caminho sem pedras, nem estrutura sem buracos, ainda bem! A ação de ressignificar nossas vidas está intimamente relacionada com a nossa imensa capacidade de lidar com esse "furo", essa falta que nos é tão íntima e tão dolorosa.
Não é incomum ouvirmos as pessoas se lamentando sobre como gostariam de estar em um tempo passado, como tudo era mais fácil. Raramente, porém, paramos para refletir em como estamos melhores atualmente! Tendemos a acreditar que o tempo passado foi melhor porque negamos as suas dores e esquecemos as suas angústias. Muitos perdem oportunidades de uma vida por não se soltarem das amarras que os prendem ao medo da mudança.
Em que condição você estava há um ano ou dois anos ou mais? Nem precisamos ir muito longe. Meu caro, se não há progresso em seu interior, é tempo de repensar como está utilizando o seu tempo, se está causando mais dor do que amor às pessoas a sua volta. Agora façamos outro exercício: em quais e em quantas situações na sua vida você precisou ser mais forte do que se considerava ser? O que aconteceu depois da tempestade com você e com as pessoas que causaram esse momento de dor? Olhando para essas experiências, você consegue visualizar um objetivo posterior para tudo, a vontade decretiva de Deus?

Bem, sejamos portadores de boas notícias (ou de más):

Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.
Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto.
Lucas 6:38;43

Nossas definições de bem e mal construídas não dão conta da complexidade humana, mas são úteis na compreensão de seus comportamentos, por vezes considerados supreendentemente cruéis. Neuróticos (histéricos ou obsessivos), psicóticos ou perversos, ou simplesmente sujeitos, somos capazes e hábeis para ferir e sermos feridos, e sempre há retorno e consequências de nossas escolhas.
Tendo a dizer que ser histérico é sempre uma dor, pois dizer a si mesmo através do Outro é sempre um risco, nunca se sabe quem está do "outro lado". Essa construção geralmente nos coloca em posição de fragilidade, esse é você que geralmente é vítima e ferido de morte (por ódio ou por amor) por obsessivos e perversos (histéricos também, para ser justa). Pois bem, compreenda que ao lidar com a sua dor, a sua falta pode tornar-se companheira. Mantenha a sua casa erguida e alicerçada e lembre-se: ela é sua e de mais ninguém é a responsabilidade de mantê-la erguida!
O obsessivo vem com todo o seu desejo irrealizável: a perfeição, a impossibilidade do furo no Outro (o feminino), um desejo profundo de evitar enxergar seus próprios defeitos estruturais. Porém, se há um só ser "todo" (e aqui remeto à Lacan) - Deus - o desejo do obsessivo de encontrar um par perfeito se esvai completamente. Você tende a "empurrar com a barriga" suas decisões sem chegar a lugar nenhum? Reflita, não perca oportunidades singularidades pelo medo de lidar com a falta do par, a sua casa pode parecer alicerçada, mas se não for bem cuidada, pode ruir a partir da estrutura interna sob os seus próprios ataques e medos.
O psicótico foge, vive "a céu aberto". A construção delirante remete a uma tentativa de edificação de sua casa interior. Não há metáforas paternas em seu psiquismo. Sustenta tua casa, o lugar da tua falta, pois ela é presente.
Ah, o perverso! O quanto você se satisfaz com a angústia do outro? Qual é a construção que você faz em torno das coisas que deseja? Digo, o seu fetiche particular? Como seria não dar bons frutos e tentar divertidamente fazer desabar as árvores de casas alheias? Sinto muito, recursar-se a aceitar à lei não o torna menos castrado.
Compreendemos, pois, que existem pessoas e pessoas, mas um só Deus! Existem faltas e escolhas, mas uma só busca. A completude não nos é alcançada em vida, teríamos que cair no Real, na morte, como Macabéa, de Clarice. Teríamos que conquistar a vida eterna.
Vivendo em comunhão, encontramos pessoas mais inclinadas a ações más em todos os lugares: no bar, na igreja e até na rua. Infelizmente só conseguimos perceber o que está inscrito em seus corações quando a boca fala, ou quando estamos feridos e machucados, quando estamos tão próximos de nossa dor que conseguimos enxergar mais longe, do fundo do poço.
Quando Deus nos concedeu a salvação por meio do sacrifício de Seu filho não nos disse que não sofreríamos, ao contrário, informou-nos bem que, ainda que os justos estivessem sob ataque, os ímpios não sairiam vencedores.

Os ímpios serão transtornados e não subsistirão, mas a casa dos justos permanecerá.
Provérbios 12:7

A casa novamente... Como tens cuidado da tua casa? Conhecendo a maldade humana, quantas vezes não tentaram derrubar tua bela construção? Quão abalada está? O quanto está precisando da palavra de Deus nesse momento para ser reconstruída?
Lembrem-se de como iniciamos o texto: "da abundância do seu coração fala a boca". Não atire pérolas aos porcos, nem espere frutos sadios de árvores podres. Casas alicerçadas provavelmente serão atacadas. Pessoas más têm uma grande habilidade de enxergar as fraquezas humanas, principalmente porque não conseguem olhar para as próprias construções. Não as julgue, é doloroso demais lidar com isso, insuportável até, para essas pessoas é melhor e mais fácil ferir antes de serem feridas, mas com isso deixam de conhecer a glória do amor, o maior de todos os dons!
Há um fato que trago para a sua dor, para reflexão em momentos nos quais estamos nos estruturando apenas em nossa fé porque a casa está desmoronando:

Ninguém tenta destruir uma construção fraca, apenas casas alicerçadas na rocha!

Amem, pois, perdoem. Ainda que a ferida esteja aberta e tenha sido jogado sal. E, aos que estão do outro lado, sempre há tempo para o arrependimento. Deus nos transpassa e nos transborda para que possamos amar os nossos semelhantes e termos novas chances. Comece hoje e, se a construção estiver difícil, peça ajuda.

Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam.
Lucas 6:27

Aliem-se a casas semelhantes, deixem que Deus cumpra a sua vontade com justiça e misericórdia e certifiquem-se de estarem firmes na rocha!

Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante:
É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha.
Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.
Lucas 6:47-49

quinta-feira, junho 25, 2015

Um dia...


Um dia te trago comigo
Te faço um abrigo no meu coração
E mando teus medos embora
Que não há demora em nossa oração

Um dia tu casas comigo
Me beijas embaixo do visco
Faz paz entre razão e emoção

Um dia tu me abraças no leito
E falo baixinho no teu ouvido
Que de tudo que acredito
Amor assim só se encontra no infinito

Um dia te acordo sorrindo
Meio sonâmbulo com o som dos pássaros tinindo
Só pra dizer que te amo.

segunda-feira, junho 15, 2015

Drowning (Afogando)



Não consigo respirar. Não há escolha. Uma luta entre a dor do desaparecer e a própria morte onde não há guerreiros, apenas eu, rendida. Cansada de debater-me nas águas escuras, não posso chorar, estou afogando. E esse mar, de onde veio? Lutei a princípio para viver, lutei para não sentir os pulmões queimando, mas fui vencida pela desesperança e resto inerte, impassível diante da espuma do riso das tuas águas.
Não há uma maneira fácil de fazer isso, é como um acidente iminente, onde a morte é lenta, onde não há mais esperança de lutar, de viver. "Sobre"viver é doloroso demais para uma garota sustentada por dentro, por fora não há força nenhuma, não há defesas. Não havia barreiras em minha represa, não havia como escapar.
São chagas abertas, um coração ferido, são espasmos de um corpo que já não consegue mais sofrer. E o espírito, como um espelho quebrado, vive a maldição de ser colado todas as noites. Seus pedaços irreparáveis vão sendo espalhados nesse mar, nunca mais serão os mesmos: nem o mar, nem o espírito.
Ninguém percebe o corpo desnutrido, os olhos perdidos, ninguém percebe a tortura queimando dentro do peito, nada é sentido por fora e eu agradeço, essa morte lenta é a única coisa que posso guardar para mim, é a única escolha que posso fazer nesse momento.
As tuas águas, mar, são cruéis e gélidas, não pensam, não sentem, não se compadecem com amor, um amor pelo qual se morre afogando, nas palavras engasgadas, nas lágrimas não derramadas. Não há saída, morro lentamente. Guardo-a para mim, escondo-a, adeus, a Deus.

quarta-feira, junho 10, 2015

O tempo do mundo



Decidiu correr no meio da noite, fugindo do amanhecer, afastando-se do ser. Corria e adentrava na mata fechada, tentando esquecer o caminho, camuflar os passos da própria lembrança. Alice corria, Alice dançava com a própria sorte.
Pensava na bagagem pesada que deixava para trás, sentia culpa por não carregá-la mais, e alívio ao saber que não iria precisar da mesma. Era tarde, a Lua e o seu coração trabalhavam em uníssono. Nenhum outro barulho a não ser o da própria consciência que tentava calar. Como era o nome daquela moça que fora criada na floresta? Que cheiro tinha o desaparecer da própria morte?
Estava escuro e frio, era inverno na vida de Alice. O vestido úmido dançava na chuva e combinava com a canção de lágrimas que derramava nas folhas. Era vazio, era intimidade, era Deus.
De todo o nada fez-se um ponto, do ponto Alice puxou a linha e pôs-se a trabalhar. Em tudo que precede a humanidade, Alice, Eu existo. Em todos os corações em que há mentiras, Eu sou a verdade. Em toda morte, Eu sou a vida. Corra, Alice, é hora de parar o tempo do mundo. Agora aquieta-te e descansa, é chegado o tempo da minha justiça. Ame e confie, eu já escrevi os Meus planos. Não tenhas medo e não olhes para trás, nos vales escuros em que caminhas Eu já estendi o Meu manto.
Corra, Alice, pare o tempo do mundo!