terça-feira, fevereiro 10, 2015

Diante da porta estreita



Diante da porta estreita vejo você,
O nosso caminho e as pedras,
Os vales e as flores,
Os aromas e os amores.

Se a relva acaricia os pés,
É o teu carinho distante.
Siga, siga adiante
O rio do amor, sangramento constante.

Mais longo que o caminho é a chegada,
O peso do entendimento, das pegadas,
Nada é impossível,
Diante da porta estreita.

É tarde retornar?
Em tão escuros vales, há como a lama contornar?
Se te tenho em grande estima,
Devo atravessar.

Diante da porta estreita,
Entrego o meu bem mais precioso,
Àquele que planejou
Todos os encontros do mundo.

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

A morte da coisa



Um goleiro entrava a trave da garganta. Nada entra, nada sai. Nem o frio incomoda mais, não sei se aqui dentro há feridas de fogo ou, se diante da falta de cura, há gelo. Andar entre os distraídos, tortura. Não percebem a escuridão por trás da luz desse sorriso. Não há reza, nem pranto; nem casa, nem canto. Só há buraco, escuro e triste, onde os teus olhos não me alcançam. Não sei se me afundo no rio da vida, ou se danço com a morte. Para os que não andam distraídos, não há sorte.
A maquiagem esconde o que a alma revela, a cada passo, a cada gesto, a cada lágrima que cai quando não estás por perto. De tanto guardar as minhas grandes angústias, estou rachando por dentro, vazando amarguras. De tanto sorrir, tentar a dor velar, ela resolveu escapar, por todos os poros, sintoma é o que há.
Os céus permitiram essa morte sofrer? Esse peito aqui, que tu amastes tanto, só bate enquanto ponteiro de relógio, esperando o encontro. Quem cuida da alma muitas vezes esquece: não há remédio para quem de amor enlouquece. Real é o encontro com a repetição do teu beijo, seguido do teu desprezo. Daquele olhar de amor que se transforma em dor, quando tu negas o que a tua respiração entrega.
Os passos que caminho não são mais meus; o que olho já não vejo; o que tenho não mais desejo; o que esperava já não anseio; só tenho fé e desespero. Não tenho caminho, nem direção. Desculpe, amor, não posso mais, as lágrimas não se escondem mais, o sorriso não se segura mais nesse rosto, a voz não cala mais, nada funciona aqui dentro de mim, eu ando por aí como um rádio quebrado, procurando sinal sem antena. Preciso me deixar cair, viver meu luto, chorar meu pranto, não tenho forças pra escalar esse desengano.
E se me ama, tanto quanto a tua boca nega e a tua alma entrega, desculpe, amor, preciso morrer um pouco. Não consigo mais continuar, não consigo mais, não consigo, não...