Ela imaginava e sonhava mil coisas. Ela podia sentir o cheiro dele na cama. Quando deitava para dormir, lado a lado, sorria, sorria de um jeito inocente e perverso, que tinha gosto de conquista e carregava em si todos os fracassos, um sorriso que anunciava a morte e o nascimento, que causava arrepios de frio e calor ao mesmo tempo! Ele deitado ali, pensando que tudo valeu a pena, que valeu a pena esperar, lembrava de todos os caminhos que tinha pensado em seguir, dos sonhos de liberdade, de viajar o mundo todo num barco, de conhecer uma sereia no mar... Ele tinha acabado de descobrir que podia fazer todas as viagens do mundo só de olhar pra ela.
Ela poderia dançar a noite inteira ali, porque a música comandava sua alma, que dançava com o vento, se afinava na melodia... Ela o via, via tudo ao mesmo tempo, ela não queria ver nada, estivera cega por tanto tempo sem saber, agora que sabia queria continuar assim. Ele buscava algo, encontrava todas, menos ela. Ele a viu na pista: - Pobre menina, vítima de alguém como as outras foram de mim. Pobre menino, cuja menina se perdeu por outro e outras de outros se perderam por ele. Não faz sentido mesmo.
Ela sentia o cheiro da neve, a caxemira não era capaz de esquentar seu coração. Ela tinha tudo, tudo? Talvez o frio tivesse congelado suas forças. Olhava na janela esperando a hora da farsa começar. Ele chega, sem flores, essas eram coisa do começo, do tempo em que ele encontrara a esposa perfeita, a mãe perfeita, a mulher perfeita para esquentar seus pés. Ela sorri: - Como foi o dia querido? O frio que a congela por dentro é a insegurança, instinto, coisa de bruxa. Ela tinha tudo, ele tinha a mulher perfeita, eles tinham a farsa perfeita, até que o gelo derretesse e ela descobrisse o amor.
Ela percebeu que era muito bonita, que era muito inteligente, que era idiota a ponto de se vender. Ele achou que era o cara, que poderia comprar o mundo, ele comprou mesmo... Uma alma.
Ela o amava para sempre. Ele a amava para sempre. Eles tinham o mundo, a eternidade e tudo o que pode comprar o dinheiro, mas que o dinheiro não pode comprar! E eles ganharam a Verdade!
É preciso estar pronto para receber tesouros e sabedoria para usá-los!
E quando equivocadamente imaginamos que a vida não mais proporcionará variações, o destino se incube de alterar o plano e o percurso nos parece agradável, começamos a nos acostumar com a nova proposta à vida passa a valer a pena, e lá vamos nós, em mais uma mudança inesperada, a vida nos ensina que as variações são imprevisíveis e às vezes imutáveis. Apreendemos algo então. Coisas pequenas passam a tomar nossa atenção com mais freqüência, a vida trás para perto quem amamos o que apreciamos as coisas que estimamos as pessoas a quem bem queremos. E assim caminha a humanidade...
ResponderExcluirParabéns pelo texto, pouquíssimas vezes li algo tão perfeito, declamado com a parte mais sincera do coração. É disso que estamos a falar, sobre a alma, sobre escrever com tudo o que há dentro de nós, de deixar o mundo nos ver, quem está por detrás deste corpo, destes olhos, destas roupas, dos personagens que criamos para nós mesmos, de não temos medo de sonhar, chorar, tentar, morrer...
Viver... Esta é nossa sina, nossa obrigação, independente das variações da vida! Emocionar-nos com ela, assim como me emocionei ao ler tuas palavras, pois a vida vale à pena, vale a pena à vida!
As Cartas do Velho Marujo
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