Consultório I

Eu tenho aprendido mais no consultório de psicologia do que em qualquer aula que eu já tenha tido. Ali eu observo na recepção cada mãe, cada criança que entra. Observo de que maneira tudo isso vai contribuir pra minha própria experiência profissional, então acho que vou observar algumas coisas aqui, ajuda a organizar minhas observações mentais.
Na última sexta havia uma mãe, chegou às 5h, horário do início de atendimento, foi na recepção e a moça, muito gentil e paciente, disse que havia 2 pessoas na frente dela. Pude perceber a inquietação interna da jovem mãe que logo se apressou em começar a reclamar, dizer que não queria esperar, que odiava esperar. Os dois filhos sentaram calados, permaneceram calados, não havia vida ali, não havia infância. O mais velho era pálido, tinha olheiras, o mais novo era mais inquieto. A mãe continuou a reclamar e piorou quando soube que naquele dia, na primeira consulta, ela teria de ser entrevistada para contar os fatos anteriores, para explicar a razão do filho estar ali e receber uma certa orientação. O fato é que essa mãe tentava, acima de tudo, uma fuga para aquela situação. Ir lá fazer a entrevista e falar implicava enfrentar seus problemas, admiti-los. Como é uma clínica que trata de mulheres vítimas de violência doméstica pode-se entender a resistência.
Outra mãe chegou, também com dois filhos homens que sentaram ainda mais quietos do que os outros dois. Essa já tentou conversar com a outra mãe, pacificar, explicar a importância da entrevista. Depois, sentou e disse pra mim que seu sonho era fazer psicologia!
Observando no consultório também aprendi a capacidade das crianças de criar, uma menina chegou a pegar a almofada do carimbo para fazer um desenho; e o governo ainda precisa enviar muito material, não há praticamente nenhum brinquedo, nada.
Enfim, observe mais o mundo ao seu redor. ;)