O que é o vazio? É aquilo que você desejou e nunca teve, o
que já teve e perdeu ou o que nunca existiu?
É possível sentir falta do que nunca se teve? Há o silêncio
da noite, e o vazio da cama. Há o retrato mais puro da solidão e o barulho do
vento enquanto se reflete olhando para as estrelas. Depois daquele breve
momento em que você se questiona: quantas pessoas no mundo fazem o mesmo nesse
exato segundo? Onde estão todos eles? E por breves segundos de esperança o ar é
mais puro, até a primeira chamada da sanidade. Sanidade que talvez seja a
loucura camuflada pelas regras da sociedade.
Todos estão presentes, mas ninguém escuta, não há mais uma
alma que pare para ouvir a outra, são só palavras não interiorizadas. A
intensidade daquilo que se espera é proporcional ao seu tempo de paralisia,
cada vez maior na posição fetal do chão do seu quarto. Não, ninguém escuta,
ninguém para na estrada para oferecer ajuda.
Há gritos, e dor, e silêncio, há lágrimas que, de tão freqüentes
já formaram rios. Não importa, deve-se ser muito sensível, deve-se ter o
problema do “o seu tempo não é o tempo de ninguém”. Pare o tempo, que seja,
pare que eu preciso descer.
O vale é escuro, o frio é cortante, as palavras que você não
disse e os toques que não deu. O lençol que não sujou, o calor que me negou. O
banco dessa estrada vazio, escrever e apagar, cansar de tentar, ninguém escuta.
Às vezes vem uma visita e senta, lê um jornal, toma um café. Você nem vem, nem
vai, nem prende, nem solta.
É ser pássaro sem lugar para pousar; não ter casa que não
seja gaiola; não ter amor que não seja esmola. Uma cadeira escura onde balanço
todos os dias as horas que passaram sem a tua decisão. O livro vazio, de capa
dura, aquele que você deixou na cabeceira antes de partir.
A tua ausência está aqui, a me fazer companhia, mas a casa é
pequena para algo tão grande. Quem nela quiser morar há de concordar: o tempo é
ouro que não se pode resgatar.
Volto pro silencio, cadeira vazia, não sinto teu cheiro,
noite tão fria. O tempo passou, o ano virou, a felicidade ficou na memória.
Ainda há chão duro, as lágrimas geladas, a capacidade do corpo de dobrar-se em
si mesmo, quase que querendo retornar às condições fetais. As incertezas me
cobrem em manto de pranto, mas ninguém escuta, que não desejo a ninguém essa
morte, que não desejo a ninguém o vazio que, agora, me faz desaparecer.
A você que não incomodo mais com a minha solidão, e com o meu
amor, e com o meu tempo acelerado, encontrou a felicidade que buscava? Como é adormecer
sem um abraço, e acordar sem um olhar? E quando quiser segurar minha mão,
precisar de atenção? E se essa foi a sua chance de nunca mais ser sozinho? E quando
você perceber que a deixou ir?
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