Vivemos cercados por nossas fantasias sobre a realidade, algumas melhores, algumas piores. Nos relacionamentos humanos tendemos a construir nossas imagens e espelharmos nossos desejos nas dos outros em um redemoinho de “eu sou-eu sem você-quem sou eu”.
Nas amizades há decepções, algumas maiores do que no amor. A questão é que amigos são amigos, negócios à parte. Nós (nos) magoamos, fazemos draminha e voltamos às boas ou simplesmente trocamos o “amigo (a), tenho novidades” pelo “bom dia/boa tarde/boa noite”.
Mas e quando construímos um castelo no ar com os nossos “amores”, onde os contos de fadas se transformam em pesadelos e não temos escolha senão nos jogarmos do alto? Como é possível que tamanha ilusão persista, muitas vezes, por tanto tempo?
Existem pessoas andando por aí que não sabem quem são, ou simplesmente sabem tanto quem são que fingem ser outra pessoa para conseguir alguma coisa na vida. Mais dia, menos dia, infelizmente, você (que não finge nesse aspecto) encontrará esse par.
Mariazinha conhece o João mais apaixonado do planeta. Eles nunca terão problemas, pois, veja bem, João passa, cozinha e diz que quer crescer na vida (claro que quer, às custas da Mariazinha). Mariazinha fica tão feliz pensando que só faltava um amor pra completar sua vida, afinal ela já era bem sucedida nas outras coisas, que encontra nas promessas de João seu porto seguro.
João é geralmente um príncipe, não gosta de sair para festas, nem de beber, dorme cedo e diz que quer ganhar dinheiro para sustentar a família: o homem perfeito! Ele se joga de cabeça na relação, apresenta a namorada pros amigos e dá até nome pros futuros filhos!
Um belo dia, João, coitadinho, tão sufocado pela pressão de um relacionamento sério decide ficar sozinho por um tempo. João não tem peso na consciência, afinal Mariazinha, sempre tão boazinha, vai superar, quem sabe quando ele cansar da vida de estudos (vulgo canalhice) ela ainda estará esperando por ele?
E agora Mariazinha? É fácil construir uma imagem perfeita de quem amamos, principalmente quando essa imagem é sustentada pelo outro. De repente, quando já até olhamos no calendário a melhor Lua para o dia do casório, BUM, o verdadeiro self de João se revela, sim, caros amigos, porque nenhuma máscara dura para sempre.
É tão fácil construir o homem ou a mulher perfeito (a) quanto é difícil desconstruir. Isso porque quanto mais perfeita é a ilusão vivida, mais dura e rápida é a queda. Ficamos no chão com as nossas vergonhas e imperfeições, atônitos, incapazes de conceber que dividimos nossas vidas, nossas camas e até nossos Tridents com pessoas tão desonestas!
Menos de 1 mês depois e o dito cujo João já terminou de “estudar” e de “passar um tempo sozinho” e já está novamente se relacionando, sim, porque sem nós, Mariazinhas, quem é mesmo o João?! Algumas pessoas nem fazem por maldade, simplesmente encontram em ferir os sentimentos dos outros uma forma de suprir o vazio interior, assim, como se estivessem comprando ou comendo demais para esquecer. E não são só homens que fazem isso, há mulheres desesperadas com seu vazio andando por aí também.
Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando, com seus defeitos e momentos de fraqueza. Que sorte a nossa de não precisarmos fingir um falso self para encontrar a felicidade. Agora é hora de buscarmos pares reais e deixar que o João se assuste com a própria face no espelho da vida quando a máscara cair. Lembrem-se: toda desconstrução leva a um novo começo.
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