quarta-feira, junho 10, 2015

O tempo do mundo



Decidiu correr no meio da noite, fugindo do amanhecer, afastando-se do ser. Corria e adentrava na mata fechada, tentando esquecer o caminho, camuflar os passos da própria lembrança. Alice corria, Alice dançava com a própria sorte.
Pensava na bagagem pesada que deixava para trás, sentia culpa por não carregá-la mais, e alívio ao saber que não iria precisar da mesma. Era tarde, a Lua e o seu coração trabalhavam em uníssono. Nenhum outro barulho a não ser o da própria consciência que tentava calar. Como era o nome daquela moça que fora criada na floresta? Que cheiro tinha o desaparecer da própria morte?
Estava escuro e frio, era inverno na vida de Alice. O vestido úmido dançava na chuva e combinava com a canção de lágrimas que derramava nas folhas. Era vazio, era intimidade, era Deus.
De todo o nada fez-se um ponto, do ponto Alice puxou a linha e pôs-se a trabalhar. Em tudo que precede a humanidade, Alice, Eu existo. Em todos os corações em que há mentiras, Eu sou a verdade. Em toda morte, Eu sou a vida. Corra, Alice, é hora de parar o tempo do mundo. Agora aquieta-te e descansa, é chegado o tempo da minha justiça. Ame e confie, eu já escrevi os Meus planos. Não tenhas medo e não olhes para trás, nos vales escuros em que caminhas Eu já estendi o Meu manto.
Corra, Alice, pare o tempo do mundo!

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